quarta-feira, 1 de julho de 2009

o rei de Bwari

No domingo fui a Bwari.
Bwari é uma cidade e um governo local.
Faz parte do Território da Capital Federal (FCT), que é o nome dado ao estado que alberga a capital da Nigéria - onde a moi tem passado o cabo das tormentas e da esperança também - Abuja.
A Nigéria é uma república federal presidencialista, como os Estados Unidos. Está dividida em 36 estados e cada estado está subdividido em 774 áreas de governo local (Local Government Areas).
Imaginem, caros amigos! 774 governos locais!
Um país imenso, o mais populoso de África, o oitavo mais populoso no mundo, com cerca de 150 milhões de habitantes.
O mais grave problema social e político (e, consequentemente, económico) que o país enfrenta é, sem dúvida, a falta de unidade, de entendimento, de concertação. E isso será de espantar?
Estou convencida de que é devido a esta complexa rede hierárquica de poderes (qual máquina industrial absurda - e agora lembro-me do mendigo Charlot no Modern Times a apertar automaticamente parafusos, hipnotizado pelo ritmo repetitivo e estupidificante de trabalho; e a melhor parte é quando ele vê uma senhora de altos seios a aproximar-se e lhos aperta como se fossem dois grandes parafusos mal ajeitados e teimosos), de intrincado regionalismo, que a Nigéria dificilmente conseguirá ser uma verdadeira democracia.

Cada estado tem um governador, cada governo local tem um presidente. Este presidente é denominado, por vezes - nos governos locais do Norte da Nigéria, maioritariamente muçulmano, e dependente do emirado de Kano e, mais acima, do califado de Sokoto (cujo Sultão - Amirul Mumineen Shayk as-Sultan Muhammadu Sa'adu Abubakar - é para os muçulmanos nigerianos o que o Papa é para os católicos europeus e do mundo) - de Emir.

- Em jeito de aparte aviso que vou este fim-de-semana a Kano. Logo vos contarei -

Fomos de autocarro. Os autocarros são umas Peugeot 504 station wagon, verdes, de 12 lugares, onde os passageiros vão em alegre comunhão de pernas, braços e bens. A maioria destas carrinhas apresenta graves problemas nas suspensões e etc.

Chegámos a Bwari passados 45 minutos ou pouco mais. É uma cidade interessante - tem muitas livrarias (o que é raro no contexto nigeriano), devido à importante Universidade de Direito que alberga.

Dirigimo-nos ao Palácio e esperámos meia hora na sala de estar. Queríamos falar com o Presidente do Governo Local de Bwari, a que eles chamam - o Emir de Bwari.


Na sala de espera do Palácio
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Comove-me esta facilidade com que se chega a uma cidade e se pede para trocar umas palavras com o Emir. Já há uns posts atrás falei da liberdade que sinto nesta terra - este é um bom exemplo dela. Apesar do culto feudal a que estes chefes se prestam e alimentam, são, ao mesmo tempo, impossivelmente acessíveis. O que ilustra um dos muitos paradoxos desta terra.
A sala do presidente está aberta e qualquer pessoa da cidade pode visitá-lo e apresentar-lhe as suas saudações de viva voz.

Finalmente, entrámos na sala do Rei (em Hausa, chamam-no Sarkin Bwari, o que, literalmente, significa Rei de Bwari).
Paredes cobertas de fotografias em que o próprio posa nas circunstâncias mais variadas - recebendo um canudo do Presidente da República da Nigéria; trocando graçolas com o Embaixador da Itália; sentando-se hieraticamente ao lado do Sultão de Sokoto...).

O Rei é bem-disposto, cheio de sentido de humor e queria casar connosco porque as quatro mulheres que tem não lhe chegam e já as deve achar velhas. Ele dizia:"Como é que um homem pode casar apenas com uma mulher, com todo este sangue e força que tem de vazar? Seria uma frustração e uma vergonha!".

O Rei de Bwari, vestido de túnica azul, sobre o trono púrpura.
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Insistiu para que comêssemos fura da nono, leite de vaca fermentado, tipo iogurte, este bastante açucarado - com sabor a iogurte picante, porque está cheio de pimenta e de outras especiarias - com bolas de farinha de milho cozido. Que nós comemos com não-evidente-prazer.

A Mónica e a Pauline ainda estão a comer fura. Eu já tinha posto de lado a minha caneca.
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Falou sobre Bwari; foi recebendo cidadãos que se vergavam aos seus pés num ritual repetitivo de Hausa e de ossos, numa nua palavra - de humildade.

Alguns homens locais que vieram saudar o Chefe e contar novidades - que eu não percebi quais eram porque falavam num Hausa demasiado rápido e profundo...
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No fim - quis que lhe tirassem uma fotografia com as suas três futuras esposas.

Mónica, Sara, o Rei e Pauline, à frente do palácio Real de Bwari.

1 comentário:

  1. Não precisas de casar com o rei, Sarita, que Sara já é princesa. Mas eu cá gostava que tivesses podido falar com uma das esposas efectivas do rei e lhe pudesses perguntar como é isso de partilhar o marido com outras mulheres.
    E ainda bem que eu não estava lá contigo. Ninguém me apanha a beber leite e ainda por cima azedo... Lá fazia uma desfeita ao monarca...
    Já a túnica azul, acho linda!

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