_____________________
Há dois dias a Mónica regressou das suas férias no país natal. Ela é galega e falamos em português, claro! É a leitora de espanhol na Universidade de Abuja.
Gosto muito dela.
O que me faz gostar dela é o que me faz gostar de pessoas como a Anabela, a Marie Hélène ou a Maria Cicova. Primeiro, a autenticidade. Depois, o perfeito maribanço para o que os outros possam pensar. São pessoas com quem eu sou eu mesma, sem a mínima hesitação ou tensão.
São verdadeiras amigas.
A Mónica chegou.
Ela é muito crente, vai todos os domingos à igreja – e com ela tenho explorado diferentes igrejas cristãs em Abuja, com diferentes missas, diferentes rituais e formas de adorar a Deus. É um mundo maravilhoso, no qual descobrimos muito da cultura africana. E é um mundo onde só é possível entrar com o coração e os olhos nus, sem preconceitos.
Trinity Church, Maitama, Abuja.
____________________
No domingo, fomos à missa do meio-dia na Trinity Church, em Maitama. Esta é uma igreja católica. Noutro post falarei de uma igreja protestante onde fui há uns tempos, que mais parecia que estava a assistir a um concerto de hard jazz.
Podemos ir despreconceituadas para a igreja, mas não deixamos de reflectir. E algo que me intriga é a naturalidade com que se faz de uma igreja um verdadeiro negócio nesta terra. É uma estratégia explícita para fazer dinheiro – e nem é alternativa, nem brilhante, nem inteligente, nem interessante, é apenas comum comum comum, todos o fazem, até estrangeiros que vivem aqui – e resulta sempre!
Por vezes, chegam mesmo a distribuir folhetos, enquanto decorre a missa, publicitando workshops na igreja para a formação de futuros empresários da religião.
É tão explícito, que fico perplexa e não sei o que pensar. Se fosse dissimulado, cuspiria cobras e lagartos contra as igrejas nigerianas e o meu espírito progressista e anticlericalista seria um oceano de críticas e acusações. Mas como reagir perante tal naturalidade na extorsão de dinheiro aos pobres crentes? Os pobres crentes – vê-se – apreciam ser roubados pela igreja. Como fazer?
É habitual que a missa – em que igreja seja, de que corrente cristã seja – finalize com uma procissão de padres e directores de ONG’s e escritores de livros sobre visões do Inferno e do Paraíso, etc, pedindo a contribuição dos crentes para os seus projectos.
As duas pasmadas e já cansadas, depois de duas horas e meia dentro de uma igreja, agora com o próprio pastor da mesma exortando o rebanho para a oferta de umas nairas em prol da salvação de todos e dos pobres e das novas modernas instalações da paróquia que querem construir em honra de Deus, nosso Senhor.
De repente, pensei… Vou ao ouvido da Mónica e digo-lhe “Epá, já viste, esta gente antes de sair de casa para vir à igreja tem de rechear a carteira”. Rimos muito as duas. “Pois é, como nós – quando vamos jantar fora e depois a um bar”. “Pois é”, disse eu. Enfim, a verdade é que alguns nigerianos também devem achar absurdo o que gastamos em jantares fora, em camembert’s, em vinhos de monocasta, em livros, em roupa…
E ficámos até ao fim: assistimos à ocupação violenta de mais de 10 grandes baldes de plástico pelas Nairas, à bênção final com um pastor risonho espargindo água com um pincel enorme e descabelado sobre os fiéis, enquanto o coro cantava, o baterista tocava e os percussionistas exultavam.
No fim, fomos todos contentes (e refrescados) para casa.
Não me importava nada de exultar um bocadinho numa missa assim...
ResponderEliminarEntão e sua Alteza Real?
Espero que não tenhas ficado triste com as notícias...
A Alteza Real está chegando!
ResponderEliminarNão! Não fiquei triste ;-) Antes, fiquei decidida!
É realmente impressionante e desconcertante o teu relato! Não sei o que é pior: a hipocrisia que impera nos países ditos civilizados ou a verdade nua e crua dos países tidos como subdesenvolvidos.
ResponderEliminarBeijocas grandes
Sofia
O que mais me impressinou em África
ResponderEliminarfoi a força da terra, do sol, da gente!
Nada disso encontrei na Ásia, na Europa,
na América do Norte e do Sul.
Só em África somos agarrados,
pelo clima, a música, a natureza.
Abraço, S.
Vasco