segunda-feira, 9 de março de 2009
cabelos
os cabelos de uma rapariga, no Blake, Abuja.
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Tratam muito dos cabelos.
Há umas noites atrás, a Maureen, uma nigeriana do sul, de Port-Harcourt, veio jantar a minha casa. Cada vez que a vejo está com um cabelo novo.
- O mesmo com algumas alunas minhas. Aliás, este último sábado perguntei, desgostosa, a uma aluna porque é que ela tinha cortado os seus cabelos, tão bonitos e longos, e ela respondeu-me, gozona, que não tinha cortado nada, "os meus cabelos estão aqui, debaixo destes falsos curtos que eu pus há dois dias". - (e sabe-se sá se aquilo que eu chamo os seus cabelos verdadeiros o são mesmo... talvez apenas cabelos falsos por baixo de cabelos falsos por baixo de cabelos falsos, como as camadas da Terra até ao núcleo interno... -
Então, em conversa animada com a Maureen, ela lá me explicou que as mulheres nigerianas sentem esta necessidade incontrolável de mudar de visual. Passam horas - até mesmo dias - nos cabeleireiros. Onde gastam fortunas, onde ficam a dever dinheiro, onde sofrem e choram!
Não só por elas - pelo macho homem também, claro. Elas sentem que são mais atraentes para o homem quanto mais variáveis e excêntricos são os seus cabelos... Para além de que o facto de se mudar de duas em duas semanas de cabelo indica que se tem dinheiro. E isso atrai.
Dizia-me a Maureen: "quando eles vêem que uma mulher anda sempre com o seu cabelo natural - e nós temos pouco cabelo, habitualmente, ainda que forte - e não o trata, não o pinta, não lhe acrescenta extensões, bom, então eles presumem que é uma gaja que não tem onde cair morta, pobre, e decadente."........
Amam as extensões. Andam por aí todas com umas cabeleiras impossíveis, imensas, excessivas e excedentes.
No início, pensava que os cabelos das nigerianas eram mesmo assim. Depois fui-me dando conta de espinhas de cabelos pela rua, pelas estradas, nas bermas dos caminhos, sim, restos mortais de tranças e fios e ramos de cabelos. Pensava "mas isto será para candomblé?!".
Não, não é. São as extensões que vão caindo... como as folhas castanhas das árvores caducas nos Outonos, como a pele ressequida das cobras... A cola nas fontes dos cabelos falsos vai cedendo e as belas vão encarecando - até arranjarem mais uns trocos para voltar ao cabeleireiro.
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Post excessivo!
ResponderEliminarMuito boa a nota "etnográfica", excelente a prosa, fantástico o final que nos arrepia a espinha e nos põe... os cabelos em pé! :)
Mámi
iá, e sabes q n é só na Nigéria? é muito "afro" (c muitas aspas e seja lá o q isso for). e sim, grande etnografa q és!
ResponderEliminarora atenta, por exemplo na cova da moura há quase mais cabeleireiros que residentes (tou a exagerar um pouquinho...). o cabelo - mas n só, as unhas, o próprio corpo e o trabalho do e no corpo - como forma de ostentação de poder (poder económico, poder estatutário, poder identitário). o investimento que se faz no corpo e em partes do corpo é alto. nós por cá é que tendemos a separar o corpo da alma...ou não?n agora confundi-me a mim mesma...
bacci
joan avril