quarta-feira, 4 de março de 2009

uma escola


Uma escola secundária, Asokoro, Abuja.

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Apesar das janelas abertas, não me inspiraria a liberdade e a alegria que a aprendizagem e o conhecimento deveriam inspirar....
Quando a olhei, claro, pensei imediatamente numa prisão. Se clicarem na imagem, verão mais pormenorizadamente a fotografia.
Vinha da sede da Comissão da CEDEAO, no distrito de Asokoro, numa franja da cidade. Não encontrava táxi. Distraída, resolvi apenas caminhar. Um sol devorador (era perto do meio-dia).
Nunca tinha reparado nesta escola, de tantas vezes que já passei de carro ou de táxi por ela, a caminho da Comissão. É por isso que aprecio andar a pé. Não há melhor forma de conhecer profundamente uma cidade.
Num pavilhão separado deste bloco principal, decorria uma aula. Um professor, que distingui por entre choques de luminosidade e frestas, lia. Os alunos, irrequietos, estendiam-se pelas outras janelas - pequenos buracos no deserto, num espaço vazio, cheios de sombra e de bafio. Parei. Durante uns minutos observei a cena - tão cinematográfica! Numa janela, um professor entrecortado - como que interrompido nos seus movimentos pelos jogos de sombra e luz sobre as grades da janela - nas outras, os alunos - desmanchados, estendidos, dilatados, sobre as mesas, sobre a escuridão.
"Que paisagem mais triste!", pensei. Repentinamente, houve uma alegria. Os alunos estavam a repetir em alta voz algo que o professor ia ditando. Animavam-se.
Puxei da minha máquina fotográfica.
Um já me reparara antes. Palavra puxa palavra, já vários olhavam. Quando puxei da máquina, o professor fixou-me entre uma grade e a outra.
Intimidada, não tirei a fotografia.
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Consolei-me com esta, do edifício principal, que diria uma prisão ou qualquer outra coisa assim fechada grande triste, onde as pessoas perdem a vontade de viver.
Lembrei-me de uma citação do Pavese, mas só assim em abstracto - como que da ideia, do conceito -, porque não me lembro das palavras. E talvez a minha mãe me ajude aqui.
Onde ele falava de edifícios tristes como hospitais e universidades.

1 comentário:

  1. Ajudo pois!:) A citação não é do Pavese, mas do Giovani Papini e dizia que todos os grandes edifícios, onde se amontoam pessoas (prisões, escolas, igrejas), eram altamente perigosos para os seres. Infelizmente, cito de cor, mas a ideia é essa. Não falava de tristeza, mas de perigos...:)

    Seja como for, essa escola não difere de muitas que existem em Portugal e por essa Europa fora. A fotografia ficou muito boa, com a simetria das janelas escancaradas que, quanto a mim, atenuam a ideia de prisão e arejam a cor de cócó de passarinho das paredes.

    Seja como for, ainda, quem nos dera que na Guiné-Bissau houvesse escolas secundárias como essa. A propósito, uma delegação da CEDEAO foi imediatamente para Bissau e esteve presente na tomada de posse do presidente interino e estará presente nos funerais.

    Mámi

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