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Hoje é domingo.
Ontem choveu muito. Hoje está mais fresco, ainda que se mantenha aquela humidade peganhenta – e que sem ela estar aqui ou estar noutro lugar era a mesma coisa.
Quando começou a chover eu regressava de um bush bar vizinho. Fui lá com vontade de relaxar e beber uma cerveja sozinha; é um dos bush bares mais bonitos de Abuja – grande, bem tratado, muito verde. E fica a uns 30 minutos a pé de minha casa. Durante uma hora estive sentada, entretida nas minhas escritas e leituras, sem que ninguém me atendesse. Entretanto chegou um casal – e foi atendido. Chegou outro casal – e foi atendido. Muito calmamente levantei-me, fui ter com o empregado, e perguntei o que se passava. Ele disse que não se passava nada. Eu disse que estava há uma hora sentada numa mesa sem que ninguém me viesse perguntar o que eu desejava. Ele disse que me tinha visto e que tinha feito sinal a dizer que já ia, mas que estava a pôr umas mesas. Eu disse que tinha visto e que tinha esperado, mas que entretanto tinham chegado outras pessoas que ele atendera imediatamente sem dizer que já ia. Ele pediu desculpa e perguntou-me o que eu queria. Eu disse-lhe que queria que para a próxima vez que uma mulher branca e sozinha se sentasse nas suas mesas ele a atendesse imediatamente e com respeito. Ele disse está bem. Eu disse óptimo. E fui-me embora, sem beber a minha desejada cerveja.
Foi neste regresso a casa, ainda irritada com o sucedido, que caiu uma bátega sobre a minha cabeça. Esqueci tudo. E molhei-me que nem uma criança excitada na banheira.
Hoje acordei, e havia um silêncio pouco habitual. Tinha aberto as janelas, e entrava o cheiro das coisas lavadas e das coisas quentes que são molhadas e que se vaporizam neste odor quente, acre, terrestre.
Foi dos acordares mais agradáveis que já tive em Abuja.
Ainda bem que essa história podre de discriminação acabou bem, com esse acordar limpo e bem cheiroso, após uma excelente atitude da tua parte.
ResponderEliminarMudam-se as coordenadas geográficas, mas as porcarias são sempre as mesmas, como as estrelas no céu. Não repito o que já tive ocasião de te dizer no google talk, mas espero que a próxima recepção a uma branca estrangeira seja outra e que as mulheres nigerianas prestes possam ir tomar a sua bebida solitária num bar, sem terem de levar com pedradas bíblicas.
Embora a minha pena seja única, volto para assinar, e ainda prantar os beijos saudosos,
ResponderEliminarMámi :)
Estiveste muito bem e talvez tenhas contribuido para a mudança de um ser que foi educado dessa maneira e, pobre, nunca teria pensado que as "mulheres brancas e sozinhas" também devem ser respeitadas, assim como qualquer mulher, independentemente da cor da pele, etnia, crença,...
ResponderEliminarNo entanto, se em vez de te ires embora, te tivesses sentado novamente à espera da sua mudança de comportamento, talvez a lição tivesse sido mais significativa para ele e terias bebido a tua "desejada cerveja" duplamente feliz por teres satisfeito dois desejos: a tua desejada cerveja (ah!ah!ah!)e o "novo" atendimento do empregado.
Mas vais sempre a tempo de verificares a capacidade de aprendizagem do dito empregado, certo? Ah!ah!ah!
Essa eu gostava de presenciar! Se lá regressares, diz qualquer coisa.
Beijocas
Tita