domingo, 5 de abril de 2009

domingo

um domingo, na igreja católica de Garki.
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Hoje é domingo.

Ontem choveu muito. Hoje está mais fresco, ainda que se mantenha aquela humidade peganhenta – e que sem ela estar aqui ou estar noutro lugar era a mesma coisa.

Quando começou a chover eu regressava de um bush bar vizinho. Fui lá com vontade de relaxar e beber uma cerveja sozinha; é um dos bush bares mais bonitos de Abuja – grande, bem tratado, muito verde. E fica a uns 30 minutos a pé de minha casa. Durante uma hora estive sentada, entretida nas minhas escritas e leituras, sem que ninguém me atendesse. Entretanto chegou um casal – e foi atendido. Chegou outro casal – e foi atendido. Muito calmamente levantei-me, fui ter com o empregado, e perguntei o que se passava. Ele disse que não se passava nada. Eu disse que estava há uma hora sentada numa mesa sem que ninguém me viesse perguntar o que eu desejava. Ele disse que me tinha visto e que tinha feito sinal a dizer que já ia, mas que estava a pôr umas mesas. Eu disse que tinha visto e que tinha esperado, mas que entretanto tinham chegado outras pessoas que ele atendera imediatamente sem dizer que já ia. Ele pediu desculpa e perguntou-me o que eu queria. Eu disse-lhe que queria que para a próxima vez que uma mulher branca e sozinha se sentasse nas suas mesas ele a atendesse imediatamente e com respeito. Ele disse está bem. Eu disse óptimo. E fui-me embora, sem beber a minha desejada cerveja.

Foi neste regresso a casa, ainda irritada com o sucedido, que caiu uma bátega sobre a minha cabeça. Esqueci tudo. E molhei-me que nem uma criança excitada na banheira.

Hoje acordei, e havia um silêncio pouco habitual. Tinha aberto as janelas, e entrava o cheiro das coisas lavadas e das coisas quentes que são molhadas e que se vaporizam neste odor quente, acre, terrestre.

Foi dos acordares mais agradáveis que já tive em Abuja.




3 comentários:

  1. Ainda bem que essa história podre de discriminação acabou bem, com esse acordar limpo e bem cheiroso, após uma excelente atitude da tua parte.
    Mudam-se as coordenadas geográficas, mas as porcarias são sempre as mesmas, como as estrelas no céu. Não repito o que já tive ocasião de te dizer no google talk, mas espero que a próxima recepção a uma branca estrangeira seja outra e que as mulheres nigerianas prestes possam ir tomar a sua bebida solitária num bar, sem terem de levar com pedradas bíblicas.

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  2. Embora a minha pena seja única, volto para assinar, e ainda prantar os beijos saudosos,
    Mámi :)

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  3. Estiveste muito bem e talvez tenhas contribuido para a mudança de um ser que foi educado dessa maneira e, pobre, nunca teria pensado que as "mulheres brancas e sozinhas" também devem ser respeitadas, assim como qualquer mulher, independentemente da cor da pele, etnia, crença,...
    No entanto, se em vez de te ires embora, te tivesses sentado novamente à espera da sua mudança de comportamento, talvez a lição tivesse sido mais significativa para ele e terias bebido a tua "desejada cerveja" duplamente feliz por teres satisfeito dois desejos: a tua desejada cerveja (ah!ah!ah!)e o "novo" atendimento do empregado.
    Mas vais sempre a tempo de verificares a capacidade de aprendizagem do dito empregado, certo? Ah!ah!ah!
    Essa eu gostava de presenciar! Se lá regressares, diz qualquer coisa.
    Beijocas
    Tita

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