A caminho de Gwagwalada.
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Passámos uns 15 minutos atrás deste belo "lorry". Habitualmente, os camiões de mercadorias são assim. Coloridos de grafites representando ou Jesus em várias posições, ou Moisés em pose doutoral, com dizeres em letras capitais alertando para o perigo da estrada e do ateísmo. E com a mão-de-obra toda empoleirada sobre Jesus e Moisés e sobre a fé em Deus e em Alá e sobre "o que será será".
Nunca falei aqui sobre isso, mas tive um grande acidente de carro há uns dois meses. Embatendo contra um camião muito parecido com este, onde estava empoleirado (graças a Padmasambhava) apenas um homem. Ele caiu pela força do choque, rebolou pela estrada (que era uma "express way", pelo que poderia ter sido trespassado por qualquer carro que viesse à velocidade normal) e eu própria não passei por cima dele com o meu carro por um daqueles truques do Destino - que não pára de nos surpreender e de colocar o nosso cepticismo à prova.
Quando, passadas 3 horas, consegui ser levada a uma estação de Polícia próxima, queriam acusar-me de "quase homicídio". Eu disse "mas este pobre homem ia empoleirado sobre mercadoria, num camião de uma altura imensa que era conduzido a mais de 100 km/hora, quando deveria estar dentro do camião bem protegido por um cinto de segurança - se assim fosse, ele nunca teria caído. Obviamente, a culpa não é minha, mas da vossa falta de supervisão e regulamentação nas estradas". Naturalmente, desataram todos a rir, fingindo não compreender. E eram todos homens, hausas, muçulmanos (o acidente foi perto de Zaria, a caminho de Kano, no Norte da Nigéria - onde a população é maioritariamente muçulmana).
Bom, mas tudo acabou bem e o rapaz está vivo e de boa saúde. Estes africanos de plástico - elásticos, resistentes, de osso duro. Relembro o seu olhar doce, enquanto lhe estendia duas notas de mil nairas, perguntando como se sentia - e ele aceitava, resignadamente, dizendo "não era a minha hora, graças a Allah, ele sabe".
Então, a caminho de Gwagwalada, atrás deste camião, lembrei-me dele - de quem nem lembro o nome, nem lembro se cheguei a perguntar. Em cada deslocado passageiro deste camião eu via a sua cara. Quis fotografar. Implorei ao Benjamim (o motorista que nos leva sempre à universidade) que não ultrapassasse.
E ele lá ficou, a 80 km/hora, atrás do velho e colorido "lorry", mal compreendendo mas aceitando, enquanto eu fotografava e balbuciava, comovida e espantada, "welcome is better than sorry".
Nunca falei aqui sobre isso, mas tive um grande acidente de carro há uns dois meses. Embatendo contra um camião muito parecido com este, onde estava empoleirado (graças a Padmasambhava) apenas um homem. Ele caiu pela força do choque, rebolou pela estrada (que era uma "express way", pelo que poderia ter sido trespassado por qualquer carro que viesse à velocidade normal) e eu própria não passei por cima dele com o meu carro por um daqueles truques do Destino - que não pára de nos surpreender e de colocar o nosso cepticismo à prova.
Quando, passadas 3 horas, consegui ser levada a uma estação de Polícia próxima, queriam acusar-me de "quase homicídio". Eu disse "mas este pobre homem ia empoleirado sobre mercadoria, num camião de uma altura imensa que era conduzido a mais de 100 km/hora, quando deveria estar dentro do camião bem protegido por um cinto de segurança - se assim fosse, ele nunca teria caído. Obviamente, a culpa não é minha, mas da vossa falta de supervisão e regulamentação nas estradas". Naturalmente, desataram todos a rir, fingindo não compreender. E eram todos homens, hausas, muçulmanos (o acidente foi perto de Zaria, a caminho de Kano, no Norte da Nigéria - onde a população é maioritariamente muçulmana).
Bom, mas tudo acabou bem e o rapaz está vivo e de boa saúde. Estes africanos de plástico - elásticos, resistentes, de osso duro. Relembro o seu olhar doce, enquanto lhe estendia duas notas de mil nairas, perguntando como se sentia - e ele aceitava, resignadamente, dizendo "não era a minha hora, graças a Allah, ele sabe".
Então, a caminho de Gwagwalada, atrás deste camião, lembrei-me dele - de quem nem lembro o nome, nem lembro se cheguei a perguntar. Em cada deslocado passageiro deste camião eu via a sua cara. Quis fotografar. Implorei ao Benjamim (o motorista que nos leva sempre à universidade) que não ultrapassasse.
E ele lá ficou, a 80 km/hora, atrás do velho e colorido "lorry", mal compreendendo mas aceitando, enquanto eu fotografava e balbuciava, comovida e espantada, "welcome is better than sorry".
Wauuu Sara, caramba, que estórias que tens vivido, que belas pics, que bela escrita.
ResponderEliminarE ainda bem que correu tudo bem no tal episódio que n sabia.
beijos grabndes
J.
Vivências que jamais esquecerás... ensinamentos que ficam e que contribuem para a tua autoformação interior. Cada dia transforma-te numa pessoa melhor porque não passas simplesmente pela vida... Vives, reflectes e aperfeiçoas-te!
ResponderEliminarQue a Protecção Divina te continue a acompanhar!
Tita