quinta-feira, 21 de maio de 2009

o lagarto Kong

Um lagarto nigeriano.

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Quando vemos a realidade, quando estamos, de facto, atentos, e temos a possibilidade de a experienciar com um vigor que só é possível se estivermos fora dos escritórios e das casas e das escolas e das bolhas que são as cidades, então aí percebemos que o universo fictício, tal como é representado, por exemplo, nos filmes (especialmente os de ficção científica e de terror e de horror), nas bandas desenhadas, nos romances e nos poemas, nada mais é do que a realidade bem focada, vista com um zoom potente e bem manejado, de pessoa lúcida.

Olhando este belo lagarto – que tem sido das minhas causas de estupor diário por estas bandas, dada a sua sempre beleza – olhando-o apenas, nada veria de especial, para além daquilo a que já me habituei, que são estas cores, estes músculos, este mistério. Mas apontando-lhe um zoom, e fazendo como que um grande plano do cinema, focando-o e quase que lhe vendo os socalcos de membranas, aí apercebo-me de como ele me intriga, de como é uma figura inquietante – apesar de quotidiana –, que me pode causar medo – Mas ele foge!, panicoso, ao mais breve ruído que eu faça. E sinto isto por o reconhecer. Por o quase aperceber como um homem.

Estou a vê-lo, atentamente, e ele é personagem de banda desenhada, provavelmente o mau da fita, num momento de relaxe, ainda que alerta. E tão humano, de pernas esticadas, corpo atlético e musculado, em tensão, pescoço forte. A qualquer momento, revigorado, pode fixar-me e crescer e agredir-me com a sua cauda amarelada, prender-me entre os seus cinco dedos – como os dedos da gente; como o gorila gigante agarrando a bela actriz, no cinema.

Tem sido das mais gratificantes aventuras, para mim. Este calmo e concentrado observar. Talvez sinta todo este encanto por ser uma menina de cidade, que nunca teve um contacto tão próximo com a natureza.

Mas nunca é tarde de mais.



2 comentários:

  1. Que maravilha Sara!

    Mámi

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  2. Ai Sarinha, que assim que vi a foto, antes de ler o teu texto, pensei logo que o bicho parecia um homem musculado e lembrei-me dos filmes de cowboys!
    Imaginei-o a passar água pelo rosto suado, ajeitando o cabelo com os dedos, a encher o cantil e a sentar-se encostado a uma árvore para fumar um Marlboro...

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